quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Época 2010/2011 - Crónicas

O Futebol Cerebral abre esta rubrica no sentido de fornecer aos seus visitantes variadas crónicas que diariamente são escritas por especialistas em futebol por essa Comunicação Social fora.

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10/11/2010

Jesus em discussão é o que Villas-Boas expôs


JOSÉ MANUEL RIBEIRO

Não parecendo, o papel de Jorge Jesus no FC Porto-Benfica de anteontem foi mais de dano colateral do que de comandante do Titanic. Lendo os jornais de ontem e ouvindo os debates de emergência que rescaldaram o jogo fica-se com a impressão de que foi o Benfica que se desviou para bater no icebergue, mas todas as moscas do país sabem que nem o icebergue era um peso morto nem o Benfica um transatlântico. Jogou uma traineira, que perdeu metade dos jogos feitos esta época, em casa de um porta-aviões que ganhou quinze em dezassete possíveis. Villas-Boas sugere que Jesus, ao acasalar David Luiz com Hulk, pensou o jogo como uma irrealista sucessão de duelos individuais, mas ele não fez só isso: tornou-o um duelo de treinadores, acrescentando ao jogo uma dimensão desnecessária. Se não fosse a problemática David Luiz, o tema de hoje seriam as insuficiências do plantel do Benfica, porque a derrota era inevitável. Jesus estendeu apenas, ao FC Porto, a possibilidade de o decapitar também a ele, da maneira mais cruel. O demérito de Jesus não seria tão notório se Villas-Boas não o tivesse propositadamente denunciado. Hulk podia ter abalado para o corredor contrário, onde estava apenas Maxi Pereira e as dificuldades baixariam uns quarenta milhões de euros. No habitual ponto de vista dos treinadores frouxos, Varela até seria bem-vindo à direita, porque se retrai mais e seria conveniente reforçar a vigilância por causa do perigoso Fábio Coentrão. Outros tê-lo-iam feito, talvez até com total compreensão dos cronistas nos jornais de ontem, mas Villas-Boas não. Borrifou-se para Coentrão, apontou Hulk e Belluschi a David Luiz e expôs Jesus de uma forma que, noutros tempos, não seria possível no Dragão, porque então seriam os dois técnicos a reduzir o jogo a "duelos individuais". Se Villas-Boas fosse o treinador comum, digamos um Jorge Jesus, os fóruns da manhã de ontem nas rádios teriam sido muito mais agradáveis para o Jesus original. Por tudo isto, claro que pesou muito mais o mérito de Villas-Boas. Nem sequer é garantido que, com outro no lugar dele, alguém se tivesse apercebido da real dimensão do disparate. Em hora e meia, Villas-Boas fez do melhor do mundo o pior da segunda circular.


in Jornal "O Jogo"

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