domingo, 28 de novembro de 2010

Época 2010/2011 - Crónicas

in 13/11/2010

Treinar o jogo e jogar o Treino. O FC Porto e o Benfica

interagir num apoio colectivo que faz com que as ligações sejam suportadas e haja uma continuidade em vez de vazios (descontínuos)


- os vários sentidos do jogo. A contrariedade do Belluschi numa dinâmica benfiquista de aceleração.

- reconhecer que defender é atacar. A qualidade benfiquista sem uma possibilidade pelo critério portista nas zonas de pressão: as laterais. Abrem momentaneamente o espaço contrário que apenas pode ser aproveitado quando há uma aceleração de bola muito rápida.

A continuidade de jogos do FC Porto e do Benfica já nos permitem aferir as características que os definem no seu plano macro. As particularidades micro (circunstanciais) de cada jogo são diferentes e assumem contornos singulares. Daí que se reconheça que cada jogo é um jogo apesar de reconhecermos os padrões que identificam as equipas. Assim, falemos um pouco do FC Porto e do Benfica. Pelo jogo e pelas interpretações que têm surgido acerca do mesmo. Mas vamos ao jogo.

A equipa do FC Porto contra o Benfica revelou princípios defensivos que motivam a consistência colectiva sem bola, no momento em que a ganha e no modo como a faz progredir. Existe uma organização colectiva assente no fecho de espaços através da junção das linhas que condicionam a entrada da bola pelo interior. Mas o sucesso defensivo do FC Porto assenta no critério que possuem na interpretação circunstancial daquilo que é o jogo. Têm referenciais de pressão, ou seja, percebem colectivamente aquilo que acontece. Há uma aproximação sobre o portador da bola para se fazer uma crescente pressão, que se torna mais incisiva quando o adversário não tem espaço ou está com a bola em más condições. Neste contexto, há uma aproximação rápida sobre a bola e o fecho dos espaços da restante. Como reconhecem as condições, há uma sincronização intencional. Daí que se diga que a equipa é colectiva. Porque é. Mas é fundamentalmente porque é uma equipa com CRITÉRIO, com SENSIBILIDADE COLECTIVA.

A expressão desta sensibilidade encontra-se nos referenciais, ou seja, existem algumas zonas do terreno nas quais a equipa sabe que é melhor para ganhar a bola. Em virtude disso, fecham-lhe os caminhos para que ela se direccione para aí. Para as laterais. Quando isso acontece há uma aposta em tentar ganhar a bola nestes espaços (evidência deste objectivo são as reacções enérgicas de André Villas-Boas quando a bola aí chega). Contudo, existem condições em que isso não acontece e então, preocupam-se a que a bola não entre nos espaços interiores. Em virtude deste princípio, o Benfica não conseguiu fazer a bola progredir pelos corredores laterais. Agravado pelo facto de o tentar fazer em progressão com drible quando há uma aproximação defensiva dos jogadores do FC Porto. Quando estes ganham a bola aos laterais contrários, há um espaço que se pode aproveitar através da transição ofensiva objectiva e orientada para esses espaços. Quando ganham a bola nos extremos e não têm tanto espaço à frente, há uma transição menos acelerada para frente, procuram muitas das vezes ganhar espaço através um passe intermédio ou até para trás. Existe uma diversidade maior no sentido da bola, em função do espaço e sobretudo, uma intenção de fazer a bola progredir logo ou mais tarde. De temporização, portanto.

Perante este problema defensivo, o Benfica não foi uma equipa com um jogo posicional capaz de criar espaços para fazer a bola progredir pelos espaços vazios. Perdia-a. O modo como a equipa se coloca para circular a bola deve ser em largura para que se perceba que quando um lado está fechado é fundamental fazer com que ela siga por outro. Face à aproximação defensiva do FC Porto, há mais espaço do lado contrário, logo, é importante fazer com que ela seja acelerada para o outro. Parece-me que o passe é a forma de fazer a bola ganhar mais velocidade. Agora, o passe implica duas premissas: quem passa e quem recebe! A inexistência de critério do Benfica (reconhecer que o espaço está fechado) é revelado na falta destas condições porque os centrais nunca querem receber para virar (quando a bola chega aos laterais) e os jogadores à frente da defesa nunca querem a bola nem jogam em passe (quando a bola está nos extremos). Resolver esta questão passa por reCONHECER as funções que estes jogadores possuem porque um pivot faz isso e um «trinco» não o faz (nem se pretende) do mesmo modo que os designados médios ofensivos fazem e os defensivos não fazem. Tudo assenta naquilo que o treinador quer que se faça. Então, basta pensar no que é o Javi Garcia e saberemos o que se pretende.

A Organização ofensiva do Benfica tem sido marcada pela aceleração da bola no sentido da baliza. São muito impulsivos e existe pouca lateralização da bola para lhe ganhar espaço num segundo momento. O que se verifica no jogo posicional da equipa. O jogador com a bola tem sempre a maioria dos seus apoios (viáveis e inviáveis) à frente. Logo, quando uma equipa condiciona este sentido de jogo, torna-se muito difícil ter sucesso. Sentimos isso com o desempenho do Belluschi que pela sua predisposição posicional, de frente para a baliza adversária, conseguiu ganhar a bola fazendo-a seguir no sentido contrário. Deste modo, o Benfica tem uma dinâmica posicional que funciona no fazer a bola seguir para a frente e quando isso não acontece, tem muito espaço atrás. Com consequências drásticas no resultado quando se joga com equipas mais fortes.

by Marisa Gomes, in zerozero.pt

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