Premier League - Um Campeonato diferente
O campeonato inglês, actual Barclay´s Premier League é, de facto, um campeonato diferente.
Apesar de não estar comprovado, é assumido, por quase todos, ter sido em terras de Sua Majestade que se inventou o futebol. Esta teoria faz sentido se olharmos aos inúmeros clubes de futebol espalhados pelo mundo que usam, ou usaram, termos como "football", "club", "sport", "sporting"... bem como os termos internacionalizados de "penalty", "off-side" , "corner" ou "goal", termos que viriam, com o andar dos tempos, a ser substituídos por palavras nacionais de cada País. Em Portugal, concretamente, o "penalty", que significa penalidade, virou Grande Penalidade, o "football" (bola no pé) virou futebol, o "corner" virou, muito naturalmente, canto (ou pontapé de canto), o "off-side" ( fora do lugar ) virou fora-de-jogo e, claro, o "goal" inglês virou o golo português. Mas houve termos que ficaram nomeadamente a nomenclatura de muitos clubes ( sport e sporting ). A língua inglesa não é falada seguindo as regras estruturais da portuguesa, muitas vezes trocam de posição. Sendo assim o Sporting Club de Portugal deveria chamar-se Clube Desportivo de Portugal..., o Football Club do Porto deveria chamar-se Clube de Futebol do Porto... o Vitoria Sport Club deveria chamar-se Clube de Desporto do Vitoria ... Aportuguesaram-se os nomes mas manteve-se a estrutura inglesa pois os clubes foram fundados usando a gramática e termos ingleses. (por exemplo seria muito diferente chamar de Clube de Futebol do Porto em vez de Futebol Clube do Porto). Os clubes que mantiveram os termos ingleses "Sport" e "Sporting" na sua nomenclatura apenas aportuguesaram as palavras Club para Clube e, eventualmente, a preposição "of" para o "de" português e o "and" para o "e" português. No caso do Benfica nada foi alterado. Pelo mundo fora encontramos milhares de clubes com termos ingleses na sua denominação. Se não foram os ingleses os inventores foram eles, seguramente, quem mais difundiu este desporto.
As próprias medidas estipuladas nas Leis do Futebol, e ainda hoje respeitadas pelo International Board da FIFA, foram transformadas para o sistema métrico, usado pelos continentais, e acabámos por ficar com medidas (para nós) meio complicadas... 9,15 metros ( distância mínima a que deve estar um jogador adversário aquando da marcação de qualquer falta ) equivale a 10 jardas (medida inglesa). Os 11 metros para a marca do penalty eram, de facto, 12 jardas. A linha da Pequena área dista da linha de baliza 5,5 metros equivalentes a 6 jardas. A linha da Grande área dista da linha da baliza 16,5 metros o que equivale a 18 jardas. A largura da baliza, 7,32 metros, era de 8 jardas. A jarda era a medida usada e era bem simples (para os ingleses). Portanto as próprias medidas do rectângulo de jogo nos indicam terem sido os ingleses a criarem este desporto.
E, ainda hoje, o campeonato inglês é diferente da maioria conservando os seus valores iniciais. Nesse campeonato, agora Liga, só conta, para a classificação geral, o número de pontos e a diferença de golos marcados e sofridos. Isto quer dizer que, no fim do campeonato, em caso de igualdade pontual, fica à frente quem tiver maior diferença de golos marcados e sofridos e, prevalecendo a igualdade, quem marcou mais golos. Não interessa para nada os jogos entre as equipas empatadas, ou golos marcados fora, apenas conta a diferença de golos. Futebol é isso mesmo... ganhar e marcar golos... quantos mais melhor... Igualmente o calendário dos jogos da 2ª volta do campeonato não é igual ao calendário da 1ª volta, no campo do adversário, como acontece entre nós e em quase todos os campeonatos nacionais do mundo inteiro. Em Inglaterra até isso é diferente. O calendário da 2ª volta é bem diferente do da 1ª (no campo do adversário).
O futebol, em Inglaterra, é um desporto de paixões, como em todo o mundo, mas os ingleses vão ao futebol para ver espectáculo, para ver bom futebol, para se deliciarem com a beleza proporcionada pelos artistas do futebol. Várias vezes se assiste a claques de equipas derrotadas a aplaudirem a equipa vencedora (que acabou de derrotar a sua favorita) reconhecendo a superioridade adversária, aplaudindo jogadas fantásticas e maravilhosas protagonizadas pelos adversários... isto é impensável entre nós... os espectadores do futebol inglês vão ao futebol, antes de mais, para ver bom futebol... claro que se a sua equipa do coração vencer melhor ( quem não gosta de ganhar? )... entre nós os espectadores querem ver, antes de mais, o seu clube ganhar, pouco se importando se jogaram mal, ou quase nada, ou se venceram por causa de erros da arbitragem ou de bastidores... o objectivo único, quase doentio, é ganhar... o resto não conta...
Apesar de ser a terra aonde apareceu esse vírus, agora controlado, dos hoolligans, os espectadores são ordeiros apesar de, vibrantemente, cantarem e torcerem pela sua equipa favorita... apesar da segurança ser uma necessidade em qualquer evento de multidões não consigo ver, nos jogos da Premier League, os contingentes policiais que vejo nos jogos dos outros campeonatos... em poucos campos existem vedações e fossos de separação para o rectângulo de jogo. É outra cultura, é outra mentalidade, é outra maneira de assistir ao futebol. Na pátria de Sua Majestade não encontro campeões a descer de divisão (Marselha, Juventus, Napoli, etc), não apanho ódios tresloucados contra um jogador (Barcelona-Figo), não encontro apitos dourados nem prateados, não encontro escândalos federativos (Queiróz), não me recordo de viciação de apostas (Itália) desportivas nem de jogadores presos, na cadeia, irem jogar pela selecção (Paolo Rossi)...
Os estádios estão sempre cheios... alguém entre nós se pergunta porque, entre nós, só os jogos do Benfica e do Porto enchem alguns estádios? alguém se pergunta como é possível sobreviver com assistências inferiores a 1.000 espectadores? Qualquer equipa inglesa, esteja em primeiro esteja em último lugar, tem assistências fabulosas aos seus jogos... jogue o Liverpool, jogue o Bolton, jogue o popular Wolves, jogue o Chelsea, jogue o Tottenham... é a qualidade do espectáculo que faz as pessoas deslocarem-se de suas casas (dá na TV) , irem gastar dinheiro... eles têm a certeza de ir ver 2 equipas cujos jogadores tudo farão para agradar, jogando todos os 90 minutos no máximo das suas capacidades, saltando, correndo, fintando, rematando... sem mergulhos para a piscina, sem teatro, sem falsidades, sem má fé... e fazem isto até que o árbitro apite pela última vez... como exemplo recente o Chelsea foi apanhado desprevenido, a jogar em casa, contra uma equipa que luta para não descer de divisão... ao se apanharem a perder por 1-2 os jogadores do Chelsea não conseguiram jogar bem mas deram o litro e viraram o resultado a seu favor 3-2 mesmo no minuto 90... nos descontos a turma do Aston Villa não baixou os braços... e acabou empatando 3-3... a entrega ao jogo é fantástica... em pleno Anfield Road vi o super Liverpool ser vergado pelo Wolves, o último classificado... mas não se julgue que colocaram um autocarro à frente da baliza, nada disso, jogaram o jogo pelo jogo e poderiam mesmo ter ampliado a vitória... vejo o Manchester United a ser altamente prejudicado em Birmingham quando sofre o empate nos descontos com um golo irregularíssimo, precedido de falta clara e terminado em fora de jogo... para, no jogo seguinte, assistir a uns erros clamorosos da arbitragem a favor do Manchester united... é assim a arbitragem em Inglaterra, um dia erra e favorece uns outro dia, quando volta a errar, favorece outros ou prejudica quem foi beneficiado anteriormente... bem diferente do que acontece na nossa terra em que os favorecidos são sempre os mesmos, e quem é pequenino raramente se vê beneficiado...(árbitro, para mim, erra como qualquer um... mas tem de errar para os dois lados...)... e vejo que o que se passa em Portugal vê-se em Espanha, em França, em Itália, etc, mas não se vê em Inglaterra...
A Premier League é, de facto, um espectáculo diferente... é outro futebol... dá gosto assistir aos jogos da Premier League, seja com o Manchester... seja com o Wolves... seja com o Bolton... seja com qualquer um...
by José Manuel Moura/Zerozero
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