quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Época 2010/2011 - Crónicas

08/12/10

Falcao vs Lisandro

Mais do que uma comparação directa entre os dois, interessa fazer um balanço sobre aquilo que ficou o FC Porto a ganhar ou a perder com a "troca" de Lisandro por Falcao . Completamente diferentes estes 2 jogadores influenciam a forma de jogar do ataque e a equipa movimenta-se em função disso. Quais as diferenças ?


Lisandro era um vagabundo . Um jogador de toda a frente de ataque, que fugia ao posicionamento fixo e se movia mais em função da bola do que do espaço. Incansável e abnegado, procurava jogo em posições mais recuadas e assumia a condução de bola para tabelar com os companheiros, através de diagonais esquerda-centro ou direita-centro que rasgavam facilmente defesas menos organizadas. Não era letal na área nem apresentava um índice elevado de eficácia, mas era o homem dos golos mais difíceis e tinha soluções para todo o tipo de cruzamentos. Para não ajudar, nem sempre conseguia aparecer na área quando era preciso, mas conseguia, por outro lado, compensar essa "ausência" quando a equipa embalava com ele de trás para a frente. E que apaixonante era ver Lisandro desbravar terreno!

Com Lisandro e a sua atitude sem bola , o Porto fazia uma pressão mais alta mas, paradoxalmente, precisava de mais espaço entre a linha média e a zona de decisão para poder fazer a diferença - sobretudo nesta última temporada, em que Hulk e Rodríguez emparelhavam o argentino num ataque explosivo, mas que não tinha soluções de futebol curto e que fizessem a diferença onde a invenção de espaço fosse necessária. A dificuldade do Porto ganhar em casa o ano passado tem precisamente a ver com isso. Perante defesas fechadas e sem um criativo como Quaresma ou um avançado fixo como Farías , que estava sempre no banco, o Porto tinha tremendas dificuldades em ser eficaz no ataque . Por outro lado, era fantástico nas transições ofensivas , nomeadamente a jogar em contra-ataque e em trocas posicionais frequentes entre os 3 - como o demonstrou, por exemplo, em Alvalade, Madrid ou Manchester.

Já Falcao é muito diferente. Um ponta-de-lança à moda antiga , mais posicional e oportunista, que sabe onde a bola vai cair, que se sabe esconder atrás do defesa para depois aparecer à frente dele a fazer golo. Falcao é esperto, é um "rato" de espaços , tanto nas movimentações como na forma como usa o corpo para proteger a bola do marcador directo ou fazer uma recepção orientada a rodar sobre ele em direcção à baliza. Mais do que tudo isso, é um jogador extremamente concentrado e que lê muito bem o jogo. O 1º golo de Hulk ao APOEL é disso exemplo: Falcao apercebe-se do erro primeiro do que todos os outros , aparece entre os centrais a recuperar a bola e desmarca o brasileiro na hora certa. Isto é inteligência de jogo e é revelador de muita atenção. Não se limitando ao rectângulo da área, Falcao recua no terreno para jogar de costas para a baliza, desposiciona a defesa adversária, põe a bola nos corredores para dar largura ao jogo. É um falso lento , jogador incapaz de grandes raides em velocidade ou de dribles monstruosos, mas que põe a equipa toda a jogar muito mais rápido. Mas é, naturalmente, na área e na hora de fazer golo que faz a diferença e as suas características ímpares ficam a nu: grande capacidade de impulsão, um óptimo jogo de cabeça e um remate pronto e fácil com o pé ou o calcanhar que estiver mais "à mão". Magnífico!

Com ele, o Porto ganha outro peso na área , consegue jogar mais próximo da baliza, o que acaba por beneficiar até o futebol de Belluschi , mais rendilhado do que o de Lucho . Curiosamente, mesmo tendo Falcao na vez de Lisandro, o Porto defende agora com o bloco mais recuado, faz pressão média/baixa, conseguindo assim potenciar a espontaneidade de jogadores como Hulk, Rodriguez ou Varela nas transições ofensivas, nem que para isso Falcao tenha de manter a bola em seu poder enquanto espera que eles subam no terreno. Mesmo em casa e perante adversários teoricamente mais fracos, o Porto faz-se de adormecido e muitas vezes cede a iniciativa de jogo para ganhar a posse de bola mais atrás e depois poder partir para o ataque com mais espaço. Já o devia ter feito no ano passado mas nunca é tarde para mudar hábitos, até porque essa opção já deu frutos esta época - nomeadamente nas recepções ao Sporting , ao Nacional e, sobretudo, ao Atlético de Madrid . Mas a diferença no ataque do Porto, com Falcao, é ainda mais notória na capacidade de finalização. No aumento de opções para chegar ao golo, quer pelo chão quer pelo ar, onde agora os cruzamentos têm alvo definido e o poder de fogo ganha outra expressão.

Independentemente de tudo isto, o importante é que o ataque funcione e o golo apareça, que a bola bata na rede e o Porto ganhe. Mas é interessante perceber em que é que o ataque da equipa é diferente com Lisandro ou com Falcao e o que é que o Porto ficou a ganhar ou a perder , em termos desportivos, com a venda de um e a compra do outro. O que acham?

by Artenigma, in http://relvado.aeiou.pt/

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